Arquiteto israelense cria obra, usando como conceito a beleza do Rio. Certo dia, um cliente brasileiro resolveu pedir a um arquiteto israelense que fizesse uma cobertura para o estacionamento do seu centro comercial, na Barra. Mas este mesmo arquiteto nunca tinha vindo ao Brasil. Veio, então, para uma reunião e, depois da conversa inicial, o estrangeiro decidiu dar uma volta pelo Rio.

Para começar, se apaixonou pela cidade. E, ali, sentado em frente ao mar da Barra, ficou observando o vaivém das ondas e pensando no tal projeto. Foi assim que surgiu a Onda Carioca - cobertura do estacionamento para a área de expansão do CasaShopping, que começou a ser montada no início do mês e deve estar pronta em setembro. E a segunda onda que serve de teto a uma construção da cidade - a primeira liga os dois prédios que compõem o novo Museu de Arte do Rio (MAR), inaugurado em março.

Quando Nir Sivan desembarcou no Brasil, há uns dois anos, sua missão era apresentar um projeto para uma cobertura, como tantas outras bonitas e de qualidade que se vê. Mas, não. - O cliente faz um pedido. Eu posso fazer uma obra livre ou não. Foi o que eu escolhi fazer. É muito difícil fazer a forma livre, pois mistura técnica, arte e inspiração - disse Sivan, em entrevista exclusiva ao GLOBO, acrescentando os efeitos que o Rio produz sobre ele. - O contato com o lugar e com as pessoas acaba funcionando como inspiração para mim. O Rio é uma mistura de beleza natural com pessoas. Mar, areia, sol e ondas. Tudo isso faz uma combinação maravilhosa. E inspira.
[p]Como um quebra-cabeça gigante.

Sivan conta que, além das praias, seus lugares favoritos na cidade incluem ainda os bairros boêmios e residenciais. Para compor o cenário todo do projeto na Barra, o arquiteto israelense não apenas projetou uma cobertura em formato de onda do mar, mas também considerou características peculiares da Barra da Tijuca: suas calçadas portuguesas e a areia. Para representar os tons de quando uma onda se quebra, ele optou por duas piscinas pequenas, nas cores prata e azul. Chegar ao projeto final, continua Sivan, foi quase como montar um quebra cabeças. E para isso, ele contou com um time de especialistas - tanto dentro como fora do Brasil. O tipo de aço usado na cobertura e a tecnologia necessária para cortá-lo, por exemplo, vieram da República Tcheca. Toda a estrutura da cobertura, aliás, é feita de peças de aço em formato hexagonal. E cada peça destas tem espaço para seis vidros em formatos triangulares, todos com angulação diferenciada para que a montagem seja possível. No total, 503 vidros serão instalados ali.

O tempo total desde a concepção do projeto até a sua finalização é de dois anos. Foram oito meses planejando, três meses para construir as peças, dois meses para o transporte de navio até o Rio, e mais três meses para a montagem. A cobertura está prevista para ser entregue em setembro. O investimento total, diz Sivan, é de R$ 10 milhões. Sivan também tem projetos em São Paulo e pensa em abrir um escritório no Brasil. Ele conta que o desafio na capital paulista é levar um toque humano e de verde a um cenário predominantemente de concreto. No Rio, como já há muito verde, a idéia é aplicar mais intervenções arquitetônicas.

Contrapeso que elimina colunas

Além da precisão milimétrica na medida das peças de aço e nos vidros, a Onda Carioca só pode ser montada, destaca o arquiteto, por causa da sua dupla curvatura. Como a cobertura não tem colunas, é este contrapeso que garante que ela se mantenha firme. É como se alguém pegasse aquela estrutura e a torcesse. Com isso, ficam duas abas, e o peso de uma sustenta a outra e vice-versa. Uma ponta sai do primeiro piso do estacionamento e termina do outro lado, tal qual a queda de uma onda no mar. - É como uma folha - explica o arquiteto israelense apaixonado pelas belezas naturais do Rio de Janeiro e que, já não fosse esse projeto, confessa sua admiração pelo trabalho de Niemeyer. - Adoro o trabalho dele.

Fonte:cbca-acobrasil.org.br