As matrículas para os cursos de Engenharia no país tiveram um crescimento de 52% nos últimos quatro anos, segundo dados levantados pelo Censo da Educação Superior, divulgado nesta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Entre todas as áreas, apenas a Educação apresentou queda no período.

Em 2010, o Brasil contava com 33,1 acadêmicos matriculados em cursos de Engenharia, Produção e Construção para cada 10 mil habitantes. Três anos depois, em 2013, o país viu o número de universitários na área saltar para 50,6 para cada 10 mil habitantes, o terceiro maior setor em número de estudantes do país.

O diretor da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Luiz Carlos Pinto da Silva Filho, comenta que nos últimos cinco anos o número de acadêmicos dobrou em algumas Engenharias, como a Civil.

Esse aumento da procura mostra uma recuperação do mercado de engenharia, que permaneceu estável entre as décadas de 70 e 80. Desde 2008, houve uma retomada nos investimentos do país em infraestrutura e o mercado precisava de mais engenheiros do que podíamos oferecer. Isso resultou em uma valorização dos salários — explica Silva Filho.

Entre 2008 e 2009, conforme o professor, a remuneração dos engenheiros triplicou em São Paulo, o que fez mais jovens se interessarem pela profissão. Outro fator que contribuiu para o aumento na procura foi a criação de novos cursos, relacionados à tecnologia, como Engenharia de Controle e Automação e Engenharia de Energia.

O segundo segmento que mais teve aumento na procura dos estudantes foi o de agricultura e veterinária. De 2010 a 2013, o número de matrículas na área subiu de 7,6 para 8,9 universitários para cada 10 mil habitantes, 16% superior. Cursos que envolvem serviços foram os que tiveram o terceiro maior crescimento na demanda, com aumento de 14% no número de matriculados. Em 2010, o Brasil contava com 7,3 acadêmicos da área para cada 10 mil habitantes, enquanto em 2013 o saldo chegou a 8,3.

Embora com o maior número de estudantes para cada 10 mil habitantes, 147,2 em 2013, os cursos de Ciências Sociais, Negócios e Direito tiveram aumento de apenas 6% na procura desde 2010. As graduações de humanidades e artes e saúde e bem estar social registraram crescimentos semelhantes no número de matrículas nos últimos quatro anos: 5% e 4%, respectivamente. A área de ciências, matemática e computação ficou praticamente estável no período, com aumento 0,8% no número de acadêmicos. Educação foi a única área com queda nas matrículas.

Dos oito segmentos de cursos de graduação analisados pelo Inep, apenas o deEducação apresentou queda no número de acadêmicos matriculados. Os dados mostram que as graduações da área tiveram retração gradativa no saldo de estudantes nos últimos quatro anos.

Em 2010, o Brasil tinha 70,7 universitários em cursos de educação para cada 10 mil habitantes. Três anos mais tarde, em 2013, o país contava com 68,2 acadêmicos da área, uma redução de 3,5%. Apesar da queda, o número de estudantes no setor ainda é o segundo maior do país, atrás apenas dos cursos de Ciências Sociais, Negócios e Direito.

A coordenadora do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Luciane Uberti, comenta que, atualmente, houve uma inversão de valores sociais e culturais em relação à área da educação, em que os professores foram desvalorizados em comparação com outras profissões, como advogados ou engenheiros.

O professor é mal remunerado por toda sua responsabilidade, de formar cidadãos. E os professores da educação básica, responsáveis pela alfabetização, que é a nossa a forma de entender o mundo, acaba sendo menos remunerado do que os que lecionam para séries finais ou Ensino Médio.

Para que os cursos de educação voltem a atrair profissionais, conforme Luciane, é preciso que os governos invistam mais na educação básica, com plano de carreira aos professores e formação continuada.

Fonte: Engenharia é