Em 2008, em meio à pior seca na Espanha em 60 anos, a cidade de Barcelona recorreu à importação de água para suprir o abastecimento da população. Durante seis meses, a cidade importou regularmente 28 milhões de litros de água de uma cidade próxima, Terragona, e de Marselha na França, a um custo de 22 milhões de euros por mês, em valores da época. A iniciativa era suficiente para atender 12% da demanda.

O que na Espanha foi uma solução extraordinária para uma seca extrema, é uma medida permanente em localidades onde a falta d’água é um problema constante. As cidade-estado de Hong Kong e de Cingapura dependem, respectivamente, da China e da Malásia para seu abastecimento por meio de dutos. Também a Jordânia, especialmente a capital, Amã, de Israel. Nos Estados Unidos, a cidade de Los Angeles recebe 90% da água que consome do Estado do Colorado, a 640 km de distância.

Diante da crise hídrica sem precedentes pela qual passa a cidade de São Paulo, fica a pergunta se importar água seria uma solução viável para o problema. Especialistas apontam que seria tecnicamente possível trazer água de locais distante para abastecer a Grande São Paulo, mas que a medida teria custo muito elevado e seria insuficiente para abastecer a demanda atual. Segundo o biólogo Glauco Kimura, coordenador do Programa Água para a Vida da ONG WWF-Brasil, o uso de caminhões pipa para abastecer a população hoje atendida pelo sistema Cantareira não sairia por menos de R$ 700 milhões por mês. O cálculo levou em conta o consumo individual recomendado pela ONU, de 110 litros por dia, o que é abaixo do atual entre os paulistanos, de 188,3 litros por dia. Além disso, foi considerado o preço de R$ 700 por caminhão-pipa, preço esse que vem subindo com o aumento da procura. Outro problema é o fato da cidade estar distante do mar, o que dificultaria a logística para o transporte. São Paulo está há quase 100km de distância do porto mais próximo e seria necessário criar uma infraestrutura para bombear água até a cidade. Para trazer água por dutos e tubulações, seriam necessárias grandes obras que levam tempo e não se aplicaria a uma situação emergencial.

É preciso pensar a longo prazo pois foi a falta generalizada de planejamento que levou à situação atual. Kimura considera que uma solução mais viável para a situação emergencial de São Paulo seria reaproveitar a água da chuva: "Não estamos no Japão ou no Peru, onde chove pouco. Temos chuvas abundantes. Se armazenarmos esta água com cisternas e a usarmos para fins sanitários, já resolveria uma boa parte do problema".

Fonte: BBC Brasil