O aproveitamento de água de chuva do telhado para fins não potáveis é muito casual na Europa, principalmente no país mais rico da região, a Alemanha. O objetivo é sempre o uso não potável, como descarga em bacias sanitárias, limpeza de pisos, rega de jardins e em torres de resfriamento.

Com a escassez hídrica que a Região Sudeste do Brasil está passando, é bom lembrar que existe uma norma da ABNT NBR 15527/07 para aproveitamento de água de chuva de coberturas para fins não potáveis em áreas urbanas. As Arenas construídas na Copa de Futebol 2014 que obedeceram ao padrão FIFA, possuem aproveitamento de água de chuva para fins não potáveis.

Na Região Metropolitana de São Paulo chove anualmente uma média de 1500mm, enquanto no interior as precipitações médias anuais são de 1300mm. Portanto, chove mais na RMSP do que na Região do Sistema Cantareira.

O importante é captar a água de um telhado e não do piso, pois, a poluição do piso é aproximadamente 12 vezes maior que a do telhado. Numa média podemos aproveitar 60 Litros/m2 de telhado. Assim, em um telhado com 250 m2, podemos retirar mensalmente 250 x 60= 15.000 litros = 15 m3. Para isto, é necessária a construção de reservatório de 15 m3, que custa aproximadamente R$ 8.100,00.

O pay-back para uma indústria e comércio é muito rápido, pois o custo da água pública estando em torno de R$ 14/m3 nos dará um retorno do investimento em 3,2 anos. Em uma residência o retorno será mais longo, mas teremos a água para usar para fins não potáveis. Na minha casa fiz há tempos, um poço raso com 1,00m de largura e 8m de profundidade com objetivo de regar o jardim e lavar o piso externo e obtive uma economia da água pública de 15%.

Com mais de 3 dias sem chuva, resíduos como poeira, folhas, fezes de pombas e outros animais começam a se acumular no telhado. Devido a isto, temos que jogar fora a primeira água (first flush), ou seja, os primeiros 2 litros/m2 de telhado. Então, num telhado com 250 m2 terá que ser jogado fora 250 x 2 = 500 litros e o resto da água é aproveitado.

Existe maneira automática de se fazer esta caixa do first flush que pode ser construída no local ou adquirida. Quando tinha onze anos, a minha mãe observava a água do coletor vertical até ela ficar limpa e então através de um cotovelo metálico desviava o fluxo de água para tambores de armazenamento. Lembro disto na grande seca que se deu em 1953 na RMSP.

Não esqueça que não se pode tomar banho com água de chuva captada em telhado e nem jogá-la na piscina ou tanque para crianças tomar banhos. O grande problema são os protozoários (parasitas): Crytosporidium parvum e Giardia Lmblia que produzem diarreia de alto risco. Isto só pode ser evitado usando filtros lentos de areia. O filtro de piscina é chamado de filtro rápido e não consegue reter tais protozoários.

O aproveitamento da água de chuva em um assunto bastante simples, mas deve ser consultado um engenheiro, arquiteto ou tecnólogo, pois, trata-se de um projeto de engenharia.

Plínio Tomaz, Diretor- Presidente da Agência de Saneamento Básico de Guarulhos

Fonte: ABES São Paulo